Esta é apenas uma das muitas histórias que o grupo Doutores do Riso tem para contar do dia-a-dia de visitas a hospitais e das transformações que promovem na vida dos pacientes.
Caracterizados de palhaços, os integrantes dos Doutores do Riso fazem visitas semanais a hospitais de São Paulo e, há 10 anos, à Casa Hope (que apoia crianças carentes com câncer), quebrando um pouco a seriedade do ambiente hospitalar e levando alegria e carinho para pacientes internados e seus familiares. Na Casa Hope, os palhaços procuram estimular a criatividade e a cultura regional de cada criança, vindas de diferentes partes do Brasil e até da Bolívia. Muitos desses pequenos pacientes moram na Casa Hope há mais de cinco anos e o contato semanal com os palhaços faz com que esqueçam um pouco o ambiente onde estão, melhora a convivência e gera até uma inusitada amizade. “É uma festa, quando demoramos um pouco mais que o habitual ouvimos as crianças gritarem palhaço, palhaço”, conta Daniela Dezan, fundadora do grupo. A atriz explica que o trabalho não é fácil, porque os palhaços nunca sabem qual será a reação dos pacientes e familiares quando entram no quarto do hospital. Antes de começar as visitas, os atores se preparam para o encontro com um indivíduo com dor, muitas vezes sem esperanças de cura e, a partir disso, fazem um trabalho sem exageros que possa evoluir na medida em que recebem uma resposta positiva. “Essa resposta pode ser mínima ou surpreendentemente aberta, propícia ao jogo e à troca”, informa Daniela Dezan.
Benefícios – Os efeitos do riso nos pacientes com câncer são reconhecidos também por médicos. No Albert Einstein Cancer Center, em Nova Iorque, a terapia do riso é utilizada há mais de cinco anos. Segundo os especialistas, o riso melhora a qualidade de vida do doente e traz outros benefícios, como redução do estresse, melhora na pressão arterial e nos sistemas respiratório e cardiovascular. No Brasil, o professor emérito do curso de Psicologia da Universidade Guarulhos, Antônio Jayro da Fonseca Motta Fagundes, é pioneiro no estudo do riso e defendeu dissertação de mestrado e tese de doutorado em Psicologia na Universidade de São Paulo (USP) sobre o assunto. Durante mais de 15 anos observou, mediu e classificou os diversos tipos de riso existentes, com a conclusão de que, entre outros benefícios, o riso acelera o processo de cura das doenças. O professor Jayro Motta explica que a terapia do riso ou ‘risoterapia’ envolve basicamente programar o indivíduo para que faça ou participe periodicamente de atividades que ajudem a provocar o riso, como ler livros humorísticos ou assistir comédias. “Uma coisa curiosa é que todas as pesquisas salientam que mesmo o riso forçado e coletivo, utilizado em algumas religiões, traz benefícios. Diferentemente do sorriso verdadeiro, o benefício é em menor escala, mas ainda assim é um ganho”, argumenta.
O oncologista Fernando Maluf, chefe da residência médica em Oncologia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, confirma que a alegria de viver e o bom humor podem melhorar prognósticos da doença e ajudar no tratamento do câncer. O médico conta que estudos sugerem que pacientes motivados e focados em vencer a batalha contra o câncer têm maiores chances de viver e sentir menos os efeitos indesejáveis secundários aos tratamentos. “Por isso, reforçar que o paciente e os familiares devem fazer sua parte é relevante, mostrando que, além do tratamento, essa ajuda é mesmo um componente primordial para combater o inimigo”, complementa.
Exemplos concretos dos efeitos do riso
Os benefícios do riso não são descobertas recentes. O psicanalista Sigmund Freud cita, no trabalho ‘A Graça e suas Relações com o Inconsciente’ (1916), que uma cena cômica e o riso decorrente dela melhoram a saúde física e mental. O psicanalista Franz Alexander, do Instituto de Psicanálise de Chicago, concluiu em suas pesquisas, em 1987, que o caráter liberador do riso é um meio de extravasar as tensões e evitar doenças psicossomáticas. Mas, sem dúvida, um dos casos mais famosos dos benefícios do riso como método terapêutico é o do jornalista norte-americano Norman Cousin, na década de 1960. Portador de artrite reumatoide, o jornalista decidiu incluir no tratamento doses de otimismo e confiança, passou a assistir filmes cômicos e proibiu qualquer pessoa de visitá-lo sem ter uma piada para contar. A terapia passou a surtir efeito e 10 minutos de riso eram suficientes para aliviar a dor. O médico Eduardo Lambert, especialista em Homeopatia que também utiliza métodos complementares terapêuticos holísticos, e autor do livro ‘A Terapia do Riso. A Cura pela Alegria’ (Editora Pensamento), explica que o simples esboçar de um sorriso movimenta 28 músculos faciais, ativa no cérebro a produção de neuroencefalinas, chamadas beta-endorfinas, que são substâncias analgésicas semelhantes às morfinas e dão uma intensa sensação de bem-estar orgânico e emocional. “Por essa razão são chamadas de hormônios da felicidade”, lembra. Além disso, o riso relaxa músculos, nervos, órgãos e melhora as defesas imunológicas contra vírus, bactérias e substâncias alergênicas. “É um método auxiliar de melhora e de cura que pode ser utilizado conjuntamente com as terapias convencionais e tradicionais no tratamento do câncer”, afirma.